terça-feira, 17 de abril de 2012

"Nada na vida é tão caro quanto a doença - e a estupidez" (S. Freud)

Dor da falta

"Viver sem se haver com a dor da falta, seja esta identificada ao que quer que seja, é simplesmente inumano". (Para que serve a Psicanálise? - Denise Maurano)

BOA DICA:

Lidando com Perdas

É possível perceber que na atualidade temos vivido a super valorização do ter, do ganhar, do comprar. As relações estão se tornando cada vez mais superficiais, virtuais, tudo acontece muito rápido, não há tempo de “experimentar” uma perda.
Pode ser o brinquedo que quebrou, o peixinho que morreu, o amor que vai embora, a amiga que te decepciona, o chefe que te demite, a professora que te reprova, o vizinho que adoece, a avó que vem a falecer... São situações que acontecem na vida do sujeito de uma ou de outra maneira, pois não é possível ter uma vida sem perdas. Só que a vivência destas perdas muitas das vezes é assimilada assim: “não chora, vai passar”, “ você compra outro”, “daqui a pouco você arruma um melhor”, “não sofra, ele foi pra um lugar melhor”, “vai passar rapidinho”... É o imediatismo que predomina, os sofrimentos são jogados para debaixo do tapete, afinal o tempo é curto.
Antigamente as crianças participavam de velórios, morrer era algo natural, mas hoje é tudo muito velado, não se pensa na morte, não se fala na morte, não se lida com perdas. Das menores às maiores perdas a idéia é não sofrer. Outro exemplo é o crescimento da indústria farmacêutica, existe remédio para toda e qualquer enfermidade, uma simples “dorzinha” de cabeça é motivo para se automedicar. E pensar que em outros tempos nem havia anestesia, no parto as mulheres sofriam verdadeiramente. É claro que fazemos bom uso do que a modernidade nos permite, com a internet se abriram muitas possibilidades, com o avanço médico muitas doenças estão sendo curadas, mas não podemos deixar de pensar que as crianças não correm mais na rua, brincam e se machucam, elas jogam vídeos-game e tem amigos virtuais, distanciando-se cada vez mais da possibilidade de vida, de perda. Muitos idosos querem a todo custo se manter jovens, quantos voltam a sair para boates, fazem inúmeras cirurgias, se portam como adolescentes. Cada um tem direito de escolher como viver, mas chama a atenção a dificuldade de envelhecer, de perder o corpo sarado, os amigos, a saúde, em conviver com os limites que a idade impõe.
O que quero ressaltar é a dificuldade em lidar com as perdas na realidade pós-moderna em que vivemos. Só que na vida é preciso perder e saber perder é uma dádiva. O sofrimento precisa ser experimentado, não de maneira doentia, o sujeito há que se angustiar para fazer com que sua vida se movimente. Chorar no tempo oportuno, lamentar e se reestruturar para seguir em frente. O trabalho analítico tem muito a oferecer a esse sujeito das perdas, o homem. É um espaço com uma escuta diferenciada que permite a esse sujeito, se expressar, falar do que lhe incomoda, chorar, colocar para fora o que há tempos estava guardado, se questionar, se conhecer. É um trabalho, muitas vezes, doloroso e funciona somente com os que têm disposição e vontade de se haver com suas limitações, saber de si.